Brincadeiras a parte, sei que demorei, mas finalmente consegui terminar o primeiro capítulo de The Golden Lily. A dificuldade? Bem, uma coisa é você ler e entender em inglês, outra bem diferente é se fazer entender em português, para que a tradução faça sentido para nós brasileiros. Mas foi um prazer incrível fazer esse trabalho.
Já comecei o segundo capítulo, mas meu foco agora está na promoção que termina amanhã e mostrará o grande ganhador dos livros VA em português, e claro, ao lançamento de The Golden Lily.
Mas chega de falar, vamos ao capítulo!!!!!
Só uma observação, se quiser publicar essa tradução em seu site você pode, mas somente se me der os créditos, pois muito tempo e dedicação foram investidos nesse e em todos os trabalhos do site. Dito isso, aproveitem a leitura!
Para meu lindo filho que nasceu no dia que finalizei esse trabalho.
Muitas pessoas gostariam de estar em um abrigo subterrâneo em uma noite
assustadora de tempestade. Não eu.
Coisas que eu poderia explicar e definir logicamente não me assustavam.
Esse era o motivo de eu ter ficado silenciosamente recitando os fatos para mim
mesma conforme descia cada vez mais até o nível da rua. O abrigo foi uma
relíquia da Guerra Fria, construída como proteção num tempo onde as pessoas
pensavam que haviam mísseis nucleares em cada esquina. A parte de cima do
prédio abrigava uma ótica. Essa era a frente. Nada assustador. E a tempestade?
Simplesmente um fenômeno natural. Sinceramente, se você ficar preocupado em se
machucar em uma tempestade, então seria mais inteligente ir para o subsolo.
Então, não. Essa jornada aparentemente sinistra não me assustaria em
nada. Tudo era construído em fatos racionais e lógicos. Eu poderia lidar com
isso. Era com o resto do meu trabalho que eu tinha problemas.
Sinceramente, talvez esse fosse o motivo para uma viagem com tempestade
não me pertubar. Quando você passou a maior parte dos seus dias entre vampiros
e meio-vampiros, os transportando para conseguir sangue, e manter sua
existência em segredo para o resto do mundo... bem, isso lhe dá uma perspectiva
única sobre a vida. Eu testemunhei batalhas de vampiros e vi proezas máginas
que desafiaria as leis da física que conheci. Minha vida era uma batalha
constante em controlar meu horror ao inexplicável e encontrar desesperadamente
uma forma de explicar isso.
"Veja onde pisa", meu guia me disse conforme ainda descíamos
outros lances da escada de concreto. Tudo que vi até agora foi concreto - as
paredes, o chão e o teto. O cinza da superfície áspera absorveu a luz
fluorescente que tentava iluminar nosso caminho. Era deprimente e frio, misterioso na sua
quietude. O guia pareceu adivinhar meus pensamentos. "Fizemos modificações e expansões desde
a construção original. Você verá assim que chegarmos na seção principal.
Certamente. As escadas finalmente se abriram para um corredcor com
diversas portas fechadas alinhando-se lado a lado. A decoração ainda era
concreto mas todas as portas eram modernas com fechaduras eletrônicas
monstrando luzes verdes ou vermelhas. Ele me levou ao segundo andar a direita,
um com luz verde, e me encontrei entrando numa sala de estar perfeitamente
normal, como uma sala de espera que você encontra em escritórios modernos.
Carpete verde cobria o chão numa tentativa melancólica de imitar grama, e as paredes eram de um castanho amarelado dando um
ar de aconchego. Um sofá estilo puffy e duas cadeiras colocadas em lados
opostos da sala, junto a uma mesa com revistas. O melhor de tudo, a sala tinha
um balcão com uma pia - e uma máquina de café.
"Fique a vontade," meu guia falou. Eu suspeitava que ele tinha
a minha idade, dezoito, mas sua
tentativa de deixar crescer uma barba desigual o fazia parecer mais jovem.
" Eles lhe atenderão em breve."
Meus olhos não deixavam a máquina de café. " Posso fazer um
café?"
"Claro", ele disse. "Qualquer coisa que quiser."
Ele saiu, e eu praticamente corri até o balcão. O café era pré-moído e
parecia tão compacto que ele bem que poderia estar ali desde a Guerra Fria.
Desde de que tivesse cafeína, para mim estava bom. Peguei um vôo cansativo da
Califórnia, e mesmo com parte do dia para me recuperar ainda me sentia
sonolenta e com olhos embassados. Deixei a máquina funcionando e então andei de
um lado para outro na sala. As revistas estavam todas bagunçadas, então as
arrumei em pilhas.Eu não suportava desordem.
Sentei no sofá e esperei pelo café, pensando novamente sobre o que seria
essa reunião. Gastei boa parte da minha tarde aqui na Virgínia me reportando
para um par de oficiais alquimistas sobre o andamento da minha missão atual.
Estava vivendo em Palm Springs, fingindo ser mais experiente numa escola
particular para manter meus olhos em Jill Mastrano Dragomir, uma princesa vampira
forçada a se esconder. Mantê-la viva significava manter seu povo fora de uma
guerra civil - algo que definitivamente mantinham os humanos fora do mundo
sobrenatural que espreitava sob a superfície da vida moderna. Era uma missão vital para os alquimistas,
então não estava totalmente surpresa por eles quererem ficar a par. O que me
surpreendeu foi que eles não puderam fazer isso por telefone. Não conseguia
entender a razão de terem me trazido até aqui.
O café ficou pronto. Eu programei para fazer apenas três copos, o que
seria provavelmente o bastante para me manter durante a noite. Tinha acabado de
encher meu copinho de isopor quando as portas se abriram. Um homem entrou e eu
quase derrubei o café.
"Sr. Darnell, " eu disse colocando o copo de volta. Minhas
mãos tremeram. "É - é muito bom vê-lo novamente, senhor."
"Você também, Sydney," ele disse, forçando um sorriso.
"Você com certeza cresceu."
"Obrigada, senhor," disse sem saber se aquilo era um elogio.
Tom Darnell tinha a idade de meu pai e cabelos castanhos já grisalhos.
Tinham mais linhas em seu rosto desde a última vez que o vi, e seus olhos azuis
tinham uma aparência inquieta que eu normalmente não associava a ele. Tom
Darnell era um alto oficial entre os alquimistas e ganhou sua posição através
de ações decisivas e intensa ética de trabalho. Ele sempre pareceu heróico
quando eu era mais nova, intensamente confiante e inspirador. Agora, ele
parecia ter medo de mim, o que não fazia sentido. Ele não estava bravo? Afinal,
eu era uma das responsáveis por seu filho ter sido preso pelos Alquimistas.
"Gostei de você ter vindo até aqui," ele adicionou, depois que
alguns momentos de desconfortável silêncio se passaram. "Eu sei, essa é uma longa viagem
especialmente num fim de semana. "
"Isso de forma alguma é um problema, senhor," disse esperando
soar confiante. " Estou feliz por ajudar com... qualquer coisa que
precise." Eu continuo perguntando o que exatamente isso poderia ser.
Ele me estudou por alguns segundos e deu um breve aceno de cabeça.
"Você é muito dedicada, " ele disse. "Como seu pai."
Não respondi. Sabia que aquele comentário tinha a intenção de ser um
elogio, mas eu não via dessa forma.
Tom limpou sua garganta. "Bem, então. Vamos deixar isso de lado. Eu
realmente não quero te incomodar além do necessário."
Novamente, eu capturei aquela vibração nervosa e diferente. Por que ele
estaria tão consciencioso dos meus sentimentos? Depois do que eu tinha feito a
seu filho, Keith, eu teria esperado por fúria e acusações. Tom me abriu a porta
e fez um gesto para eu seguir adiante.
"Posso trazer meu café, senhor?"
"Claro."
Ele me levou de volta ao corredor de concreto, através de mais algumas
portas fechadas. Segurei meu café com força o cobrindo com a mão, muito mais
assustada do que estava quando entrei a primeira vez nesse lugar. Tom deu uma
parada algumas portas para baixo, na
frente de uma com luz vermelha, mas hesitou antes de abrí-la.
"Preciso que você saiba... aquilo que você fez foi incrivelmente
corajoso, " ele disse, não encontrando meus olhos. "Eu sei que você e Keith eram - são -
amigos, e não deve ter sido fácil entregá-lo. Isso mostra o quão você é
comprometida com seu trabalho - algo que não é fácil quando sentimentos
pessoais estão envolvidos."
Keith e eu não éramos amigos agora ou naquela época, mas eu imaginava
que poderia entender o engano de Tom. Keith viveu com minha família por um
verão, e mais tarde, eu e ele trabalhamos juntos em Palm Springs. Entregá-lo
por seus crimes de forma alguma foi difícil para mim. Na verdade até gostei.
Vendo a aflição no rosto de Tom, mesmo assim, eu sabia que não poderia dizer
nada parecido com aquilo.
Eu engoli. "Bem. Nosso trabalho é importante,senhor."
Ele me deu um sorriso triste. "Sim. Com certeza é."
A porta tinha um teclado de segurança. Tom digitou uma série de dez dígitos,
e a fechadura clicou em aceitação. Ele empurrou a porta aberta, e eu o segui
para dentro. A desolada sala era fracamente iluminada e tinha três pessoas
dentro, inicialmente não me dei conta o que a sala continha. Eu soube
imediamente que os outros eram Alquimistas. Caso contrário, não teria nenhuma
outra razão para eles estaram naquele lugar. E, é claro, eles possuiam sinais
que os denunciavam e que poderiam ser identificados por mim mesmo numa rua
lotada. Trajes de negócios em cores não definidas. As tatuagens de lírio dourado
brilhando em suas bochechas esquerda. Essa era a uniformidade que nós
dividíamos. Éramos um exército secreto, a espreita nas sombras de nossos
companheiros humanos.
Três deles estavam segurando pranchetas e olhando para uma das paredes.
Foi quando percebi o propósito desta sala. A janela na parede dava para outro
quarto, um muito mais iluminado do que esse.
E Keith Darnell estava naquela sala.
Ele se atirou no vidro que nos separava e começou espancá-lo. Meu
coração acelerou, e dei alguns passos assustados para trás, certa de que ele
viria atrás de mim. Levei um momento para perceber que ele não poderia
realmente me ver. Relaxei um pouco. Bem pouco. O vidro era espelho somente de
um lado. Ele presionou suas mãos no vidro, olhando freneticamente de lá pra cá
nas faces que ele sabia estarem ali mas que não podia ver.
"Por favor, por favor", ele chorava. "Deixe-me sair. Por
favor deixe-me sair daqui."
Keith parecia mais barbudo desde a última vez que o vi. Seu cabelo
estava despenteado e parecia não ter sido cortado em nosso mês separados. Ele
vestia um macacão cinza sem estampas, do tipo que você via em prisioneiros ou
pacientes mentais, que me lembrava o concreto da entrada. O mais evidente de
tudo era o desespero, terror em seus olhos – ou melhor, olho. Keith tinha
perdido um de seus olhos em um ataque de vampiros que ajudei secretamente a
orquestrar. Nenhum dos Alquimistas sabia disso, assim como nenhum deles sabiam
sobre como Keith violentou minha irmã mais velha Carly. Duvidei que Tom Darnell
teria me elogiado pela minha “dedicação” se ele ficasse sabendo sobre meu ato
de vigança. Vendo o estado que Keith estava agora, me senti um pouco mal por
ele – e especialmente mal por Tom, cujo o rosto estava preenchido com uma dor
profunda. Contudo, eu continuava não me sentindo mal pelo que fiz à Keith. Não
pela detenção e nem pelo olho. Colocando as coisas de maneira simples, Keith
Darnell era uma pessoa má.
“Tenho certeza que reconheceu Keith, “ disse uma das Alquimistas com
prancheta. Seu cabelo grisalho estava enrolado em um apertado e arrumado coque.
“Sim senhora, “ eu disse.
Eu estava salva de qualquer outra resposta quando Keith bateu no vidro
com fúria renovada. “Por favor! Estou falando sério! Qualquer coisa que
queiram. Eu farei tudo. Eu direi tudo. Eu acredito em tudo. Por favor, só não
me mande de volta para lá!”
Ambos, Tom e eu recuamos, mas os outros Alquimistas olharam com
imparcialidade clínica e rabiscavam algumas notas em suas pranchetas. A mulher
de coque olhou novamente para mim como se não tivesse sido interrompida. “O
jovem senhor Darnell tem passado algum tempo em um de nossos Centros de
Re-educação. Uma medida infeliz – mas necessária. Seu tráfico ilícito de mercadoria
foi com certeza ruim, mas sua coloboração com os vampiros é imperdoável. Embora
ele reinvindique não ter ligações com eles... bem, nós não podemos ter certeza.
Mesmo que ele esteja dizendo a verdade, ainda existe a possiblidade que essa
transgressão possa expandir para algo mais – não só a colocaboração com o
Moroi, mas também Strigoi. Fazendo o que temos feito o mantém longe desse
terreno escorregadio.”
“Isso é realmente para o bem dele,” disse o terceiro Alquimista com a
prancheta em mãos. “Estamos fazendo um favor a ele.”
A sensação de horror me percorreu. O foco principal dos Alquimistas era
manter a existência dos vampiros em segredo dos humanos. Nós acreditávamos que
os vampiros eram criaturas anormais que não tinham nada a ver com seres humanos
como nós. Uma preocupação particular eram os Strigoi – maus, assassino de
vampiros – que poderiam atrair humanos a escravidão com promessas de
imortalidade. Mesmo os pacíficos Moroi e seus equivalentes meio-humanos, os
dhampiros, foram vistos com desconfiança. Nós começamos a trabalhar muito com
esses dois últimos grupos, e mesmo se estivéssemos sendo ensinados a olhá-los
com desdém, era inevitável que alguns Alquimistas não só crescessem perto dos
Moroi e Dhampiros... mas na verdade começassem a gostar deles.
O louco era – apesar de seu crime de venda de sangue vampiro – Keith era
uma das últimas pessoas que eu poderia pensar quando se tornou tão amigável com
os vampiros. Ele deixou seu aversão por eles perfeitamente obvia para mim
várias vezes. Sério, se alguém merecia ser acusado por apego aos vampiros...
… bem, seria eu.
Um dos outros Alquimistas, um homem com óculos de sol espelhados
pendurados artisticamente fora de seu colarinho, assumiu a palavra. “Você, Srta
Sage, tem sido um exemplo notável de alguém capaz de trabalhar bastante com
eles e manter sua objetividade. Sua dedicação não passou
despercebida por nossos superiores.”
“Obrigada, senhor,” disse incomodada, imaginando quantas vezes mais
teria de ouvir “dedicação” mencionada essa noite. Isso não chega nem perto do
que aconteceu meses atrás, quando fiquei em apuros por ajudar uma fugitiva
dhampira a escapar. Mais tarde sua inocência foi provada, e meu envolvimento
foi descrito como “ambição de carreira.”
“E,” continou Sunglasses, “considerando sua experiência com o Sr.
Darnell, nós pensamos que você poderia ser a pessoa excelente em nos dar uma
declaração.”
Voltei minha atenção novamente para Keith. Ele vinha sendo espancado e
repreendido praticamente sem parar todo esse tempo. Os outros conseguiram
ignorá-lo, então eu tentei também.
“Uma declaração sobre o que, sr?”
“Estamos pensando se devemos ou não devolvê-lo a Reeducação,” explicou
Gray Bun. “Ele fez um excelente progresso lá, mas alguns acham que isso é o
mellhor para ficar a salvo e nos certificarmos que qualquer possibilidade de
apego aos vampiros está erradicada.”
Se o comportamento atual de Keith era um “excelente progresso,” eu não
poderia imaginar como um progresso inferior pareceria.
Sunglasses recolocou sua caneta sobre sua
prancheta. “Baseado no que testemunhou em Palm Springs, Srta Sage, qual sua opinião
sobre o estado mental do Sr Darnell quando refere-se a vampiros? Essa ligação
que você testemunhou foi suficientemente grave para justificar mais medidas de
precaução?”
Enquanto Keith continou a falar ou fazer perguntas de forma rápida e
agressiva, todos os olhos naquela sala estavam em mim. O Alquimista com a
prancheta parecia pensativo e curioso. Tom Darnell estava visivelmente suando,
me olhando com medo e antecipação. Supuz
que isso era compreensível. Eu retinha o destino de seu filho nas minhas mãos.
Emoções contraditórias guerreavam dentro de mim enquanto considerava
Keith. Eu não apenas não gostava dele, eu o odiava. E eu não odeio muita gente.
Mas eu não podia esquecer o que ele tinha feito para Carly. Da mesma forma, as
memórias do que ele tinha feito para os outros e para mim em Palm Springs ainda
estavam frescas na minha mente. Ele me caluniou e fez a minha vida miserável no
esforço para encobrir o seu golpe de sangue.
Ele também tratou de forma horrível os vampiros e dhampiros que
estávamos encarregados de cuidar. Isso me fez questionar quem eram os verdadeiros monstros.
Eu não sabia exatamente o que acontecia nos centro de reedução. Julgando
pela reação de Keith, era provavelmente muito ruim. Um parte de mim teria
adorado falar para os Alquimistas mandá-lo de volta para lá por anos e nunca
mais deixá-lo ver a luz do dia. Seus crimes mereciam uma punição severa – e,
ainda assim, não tinha certeza de que merecia este castigo em particular.
"Eu acho. . . Eu acho que Keith Darnell é corrupto ", disse
finalmente. "Ele é egoísta e imoral. Ele não tem nenhuma preocupação com
os outros e fere as pessoas para atingir seus próprios fins. Ele está disposto
a mentir, enganar e roubar para conseguir o que quer. "Hesitei antes de
continuar. "Mas. . . Eu não acho que ele está cego para o que os vampiros
são. Eu não acho que esteja tão próximo a eles, ou em perigo de se juntar eles
no futuro. Dito isto, eu também não acho que ele deva ser autorizado a fazer o
trabalho Alchemista num futuro. Se isso significaria deixá-lo preso ou
simplesmente colocá-lo em liberdade condicional isso é com vocês. Suas ações
passadas mostram que ele não leva a sério nossas missões, mas isso é por causa
do egoísmo. Não por causa de um apego natural a eles. Ele. . . bem, para ser
franco, é apenas uma pessoa má. "
O silêncio me encontrou, salvo pelo rabiscar frenético de canetas
enquanto os Alquimistas fazim notas em suas pranchetas. Me arrisquei a dar uma
olhada para Tom, com medo do que veria depois de ter destruído completamente
seu filho. Para meu espanto, Tom olhou. . . aliviado. E grato. Na verdade, ele parecia
à beira das lágrimas. Capturando meu olhar, ele murmurou, Obrigado. Incrível.
Eu tinha acabado de anunciar que Keith era um ser humano horrível em todas as
formas possíveis. Mas nada disso importava para seu pai, enquanto eu não
acusasse Keith de estar ligado aos vampiros. Eu poderia ter chamado Keith de
assassino, e Tom provavelmente continuaria agradecido se isso significasse que Keith não era íntimo
do inimigo.
Isso me incomodou e novamente me fez pensar quem eram os
verdadeiros monstros nisso tudo. O grupo
que eu tinha deixado em Palm Springs era cem vezes mais moral do que Keith.
"Obrigada, Srta Sage", disse Gray Bun, terminando suas notas.
"Você foi extremamente útil, e nós vamos levar isso em consideração quando
tomarmos nossa decisão. Você pode ir agora. Se você for até o corredor,
encontrará Zeke esperando para levá-la para fora. "
Foi uma dispensa abrupta, mas isso era típico dos Alquimistas.
Eficiente. Direto ao ponto. Eu dei um aceno cortês de despedida e uma última
olhada para Keith antes de abrir a porta. Assim que se fechou atrás de mim,
encontrei o corredor misericordiosamente em silêncio. Eu não podia mais ouvir
Keith.
Zeke, como se apresentou, foi o Alquimista que originalmente levou-me
para dentro."Tudo pronto?", questionou.
"É o que parece," eu disse, ainda um pouco atordoada com o que
acabara de acontecer. Agora sabia que o
meu interrogatório anterior sobre a situação em Palm Springs tinha sido
simplesmente uma conveniência para os Alquimistas. Eu estive na área, então
porque não ter uma reunião em pessoa? Isso não tinha sido essencial. Isso - de
ver Keith - tinha sido o verdadeiro propósito da minha viagem cruzando o país.
Enquanto caminhávamos de volta pelo corredor, algo chamou minha atenção
que eu não tinha notado antes. Uma das portas tinham uma quantidade razoável de
seguranças - mais do que o quarto que estive. Junto com as luzes e o teclado,
havia também um leitor de cartão. Na parte superior da porta havia uma
fechadura que trancava pelo lado de fora. Nada extravagante, mas foi claramente
a intenção de manter o que estava atrás da porta, dentro.
Eu parei, mesmo julgando errado, e estudei a porta por alguns instantes.
Então, continuei andando, analisando melhor ao invés de dizer alguma coisa.
Bons Alquimistas não faziam perguntas.
Zeke, vendo o meu olhar, diminuiu o passo e parou. Ele olhou para mim,
então para a porta, e então de volta
para mim. "Você quer. . . você quer ver o que está lá dentro? "Seus
olhos correram rapidamente para a porta da qual saimos. Sua patente era baixa,
eu sabia, e claramente temia ficar em apuros com os outros. Ao mesmo tempo,
havia uma ânsia que sugeria que ele estava empolgado com os segredos que
guardava, segredos que não podia compartilhar com os outros. Eu era uma saída
segura.
"Eu acho que isso depende do que está lá dentro", eu disse.
"É a razão para o que fazemos", disse ele misteriosamente.
"Dê uma olhada, e você vai entender por que os nossos objectivos são tão
importantes."
Decidido a arriscar, ele passou rapidamente o cartão sobre o leitor e
depois digitou outro código longo. Uma luz na porta ficou verde, e ele abriu a
trava. Eu meio que esperava outra sala escura, mas a luz lá dentro era tão
brilhante, que quase feriu meus olhos. Eu coloquei uma mão na minha testa para
proteger-me.
"É um tipo de terapia de luz", explicou Zeke se desculpando.
"Você sabe porque pessoas em regiões nublados têm lâmpadas solares? Mesmo
tipo de raio. A esperança disso é poder fazer com que pessoas como ele se torne um pouco mais
humano novamente, ou pelo menos, desencorajá-los a pensar que são Strigoi. "
No início, eu estava muito deslumbrada para entender o que ele queria
dizer. Então, através da sala vazia, eu vi uma cela de prisão. Barras de metal
grandes cobriam entrada, que estava trancada por um outro leitor de cartão e
teclado. Parecia um exagero quando avistei o homem dentro. Ele era mais velho
que eu, vinte e poucos anos, eu chutaria, e tinha uma aparência desgrenhada que
fez Keith parecer arrumado. O homem estava abatido e encolhido em um canto, os
braços cruzados na frente dos olhos evitando a luz. Ele usava algemas nas mãos
e nos pés e claramente não ia a lugar nenhum. Na nossa entrada, ele ousou uma
olhada em nós e, em seguida, descobriu mais de seu rosto.
Um calafrio me percorreu. O homem era humano, mas sua expressão era tão frio e maligna, como a de
qualquer Strigoi que eu já vi. Seus olhos cinzentos eram predatórios.
Desprovido de emoção, assim como os assassinos que não tinham senso de empatia
por outras pessoas.
"Você me trouxe o jantar?", Ele perguntou com uma voz rouca
falsa. "Posso ver que é uma menina jovem e bonita. Mais magra do que eu
gostaria, mas tenho certeza que seu sangue ainda é suculento. "
"Liam", disse Zeke, com uma paciência cansada. "Você sabe
onde está seu jantar." Ele apontou para uma bandeja cheia de comida na
cela que parecia fria há muito tempo. Nuggets de frango, feijão verde, e um
bolinho doce polvilhado com açúcar. "Ele quase nunca come ", Zeke me
explicou. "É por isso que é tão magro. Continua insistindo em sangue.
"
"O que. . . que é ele? "Eu perguntei, sem conseguir tirar os
olhos de Liam. Era uma pergunta boba, é claro. Liam era claramente um humano,
mesmo assim. . . havia algo nele que não estava certo.
"Uma alma corrupta que quer ser Strigoi", disse Zeke.
"Alguns guardas o encontrou servindo esses monstros e entregou-o para nós.
Tentamos reabilitá-lo, mas sem sorte. Ele continua insistindo em falar o quão
incríveis os Strigoi são e como um dia ele voltará a eles e nos fará pagar por
isso. Nesse meio tempo, ele faz o possível para fingir que é um deles. "
"Oh", disse Liam, com um sorriso malicioso: "Eu vou ser
um deles. Eles irão recompensar minha lealdade e sofrimento. Eles vão me
despertar, e eu me tornarei poderoso além de seus minúsculos sonhos mortais. Eu
vou viver para sempre e voltarei por você – para todos vocês. Farei um banquete
com seu sangue e vou saborear cada gota. Vocês Alquimistas puxam suas cordas e
acham que controlam tudo. Você se iludem. Vocês não controlam nada. Vocês não
são nada. "
"Vê?" disse Zeke, balançando a cabeça. "Patético. É isso
o que poderia acontecer se não fizessemos o trabalho que fazemos. Outros seres
humanos poderiam ser como ele, vendendo suas almas pela promessa vazia da
imortalidade. "Ele fez o sinal Alchemista contra o mal, uma pequena cruz
em seu no ombro, e me encontrei repetindo o gesto. "Eu não gosto de estar
aqui, mas às vezes. . . às vezes é um bom lembrete de por que temos que manter
os Moroi e os outros nas sombras. De por que nós não podemos nos deixar levar
por eles. "
Eu sabia no fundo da minha mente que havia uma diferença enorme na
maneira que Moroi e Strigoi interagiam com os humanos. Ainda assim, eu não
poderia formular quaisquer argumentos, enquanto estivesse na frente de Liam.
Ele me deixou temporariamente muda com o choque - e com medo. Era fácil
acreditar em cada palavra que os Alquimistas diziam. Era contra isso que
lutávamos. Era esse o pesadelo que não podíamos permitir que acontecesse.
Eu não sabia o que dizer, mas Zeke não parecia esperar muito.
"Venha. Vamos embora." Para Liam, ele acrescentou:" E é
melhor você comer esse alimento porque você não receberá mais até de manhã. Eu
não me importo o quão frio e duro isso está. "
Os olhos de Liam olhos estreitaram. "Por que me importar com comida
humana, quando em breve beberei o néctar
dos deuses? Seu sangue será quente em meus lábios, o seu e o da sua linda
garota. "Ele então começou a gargalhar, um som muito mais perturbardor do
que qualquer um dos gritos de Keith.
Aquela gargalhada continuou enquanto Zeke me levava para fora da sala.
A porta se fechou atrás de nós, e eu me vi de pé no corredor,
anestesiada. Zeke me olhava com preocupação.
"Sinto muito. . . Eu provavelmente não deveria ter mostrado isso. "
Eu balancei minha cabeça lentamente. "Não. . . você estava certo. É
bom para nós vermos. Para entender o que estamos fazendo. Eu sempre soube. . .
mas eu não esperava nada parecido. "
Tentei mudar o meu pensamento de volta para coisas cotidianas e limpar
aquele horror da minha mente. Olhei para
o meu café. Estava intocado e morno. Eu fiz uma careta.
"Posso pegar mais café antes de ir?" Eu precisava de algo
normal. Algo humano.
"Claro."
Zeke me levou de volta para o salão. O copo que eu tinha feito
ainda estava quente. Joguei fora o meu café velho e despejei um pouco do novo.
Conforme fiz, a porta se abriu de repente, e um perturbado Tom Darnell entrou,
parecia surpreso ao ver alguém aqui e passou por nós, sentando no sofá e
enterrando o rosto nas mãos. Zeke e eu trocamos olhares incertos.
"Mr. Darnell, "eu comecei. "Você está bem?"
Ele não me respondeu imediatamente. Ele manteve o rosto coberto, seu
corpo tremendo com soluços silenciosos. Eu estava prestes a sair quando ele
olhou para mim, embora eu tivesse a
sensação de que ele não estava realmente me vendo. "Eles decidiram",
disse ele. "Eles decidiram sobre Keith."
"Já?" Eu perguntei, assustada. Zeke e eu só tinhamos gasto
cerca de cinco minutos com Liam.
Tom assentiu melancolicamente com a cabeça. "Eles o estão enviando
de volta. . . de volta para a Re-educação. "
Eu não podia acreditar. "Mas eu. . . mas eu disse a eles! Eu disse
a eles que ele não tem ligação com os vampiros. Ele acredita que. . . o resto
de nós acreditamos. Suas escolhas que tinham sido ruins. "
"Eu sei. Mas eles disseram que não podemos correr o risco. Mesmo
que Keith pareça não se importar com eles - mesmo que acreditem que ele não
esteja - o fato é que ele fez um acordo com um. Eles estão preocupados que a
vontade de entrar nesse tipo de parceria possa subconscientemente
influenciá-lo. Melhor cuidar das coisas agora. Eles estão. . . provavelmente
eles estão certos. Isso é o melhor. "
Aquela imagem de Keith batendo no vidro e implorando para não voltar
passou pela minha mente. "Me desculpe, Sr. Darnell."
O olhar perturbado de Tom concentrou-se em mim um pouco mais. "Não
se desculpe, Sydney. Você já fez tanto. . . tanto por Keith. Por causa do que
você disse a eles, eles vão reduzir seu tempo na Re-educação. Isso significa
muito para mim. Obrigado. "
Meu estômago revirou. Por minha causa, Keith tinha perdido um olho. Por
minha causa, Keith tinha ido para a Re-educação pela primeira vez. Mais uma
vez, o sentimento veio a mim: ele merecia sofrer de alguma forma, mas ele não
merecia isso.
"Eles estavam certos sobre você", Tom acrescentou. Ele estava
tentando sorrir, mas falhou. "Que exemplo brilhante você é. Tão dedicada.
Seu pai deve estar orgulhoso. Eu não sei como você vive com aquelas criaturas,
todos os dias e ainda manter sua cabeça no lugar. Outros Alquimistas poderiam
aprender muito com você. Você entende o que é responsabilidade e dever. "
Desde ontem, que tinha saído de Palm Springs, eu realmente estive
pensando muito sobre o grupo que eu havia deixado para trás - quando os
Alquimistas não estavam me distraindo com os presos, é claro. Jill, Adrian,
Eddie, e até mesmo Angeline. . . frustrante às vezes, mas no final, eles eram
pessoas que tive de conhecer e me preocupar. Apesar das correrias que me
fizeram fazer, tinha perdido aquele grupo diversificado no mesmo momento que
saí da Califórnia. Algo dentro de mim parecia vazio quando eles não estavam por
perto.
Agora, me sentindo dessa forma, fiquei confusa. Estava atenuando as
linhas entre a amizade e o dever? Se Keith tinha ficado em apuros por uma
pequena associação com um vampiro, quanto pior eu era? E o quão próximos
qualquer um de nós estávamos de tornar-nos como Liam?
As palavras de Zeke soaram dentro da minha cabeça: Nós não podemos nos
deixar levar por eles.
E o que Tom tinha acabado de dizer: Você entende o que é
responsabilidade e dever.
Ele me olhava com expectativa, e eu consegui um sorriso enquanto
diminuia todos os meus medos. "Obrigado, senhor", eu disse. "Eu
faço o que posso."
Tradução: @lizgiotto